Desde que entrei num estúdio de televisão pela primeira vez, eu passei a ver o que é produzido e apresentado num tubo - à época! - com um olhar diferenciado. Passei a conhecer os ângulos de câmeras, ter noções de marcação, trilha sonora e alguns detalhes que nos fazem enxergar tudo como uma grande orquestra que faz daquilo que se aparenta um verdadeiro espetáculo.

Por isso mesmo também já imaginei o contrário. Já me vi como personagem de seriado e já tive crises de ansiedade quando assistia a mais de três capítulos na sequência. No dia-dia chegava a me imaginar fazendo uma cena que gostei ou rindo dela como se os personagens fossem meus amigos íntimos.

E, de repente, eu me vejo vivendo, de verdade, num seriado desses. Um seriado longo, repetitivo, de roteiro pesado, filtros meio depressivos e trilha sonora que beira um pulo no abismo. Uma interpretação de cada personagem que mexe com as emoções de qualquer ser humano minimamente equilibrado. E equilíbrio é o segredo. No confinamento, então, ele é a base da sanidade.

Foi atrás deste simples e didático equilíbrio que comecei a explorar tudo em volta, tudo que pudesse se tornar um roteiro, com uma melancolia dramática, solitária e estática, assim como os tempos em que vivemos. E fui desbravar os cantos da casa e do quintal para capturar imagens que expressassem mais que foto, mas uma poesia bucólica, simples, no entanto, graúda. Uma poesia silenciosa, confinada em pixels, que alcança o mundo inteiro e, sabe-se lá, até outros mundos, outras galáxias. Quem ousa dizer o contrário?

Esse garimpo feito pelos olhos para registrar tais imagens me aguçou uma vontade tremenda de mostrá-las, porque elas provocam algo. Eu pesquisei antes e pedi ajuda de muita gente boa no assunto. As imagens têm uma personalidade que, abusivamente, escancara qual é a poesia apresentada nelas. Algumas trazem até os versos declamados em gritos mudos. Que incomodam. Mas mostram beleza, se me permite a modéstia, que também trazem a felicidade.

Decidi fazer tudo somente com o smartphone. Fotografias e edição. Tudo elaborado e executado por um iPhone11, usando dois aplicativos de edição e tratamento de fotos. Todas as imagens foram capturadas no quintal de casa - meu refúgio e fonte de recarga de energia -, entre 10 horas da manhã e 7 da noite.

Espero, de verdade, que você possa enxergar estas fotos como itens que vão além de arte. Pelas respostas que tive, elas podem ser terapias. E se uma obra minha tiver o poder de fazer apenas uma pessoa sentir emoção, já me dou por satisfeito. Mas acredito que estas farão mais que isto. Vivam-nas.

Rimene Amaral - jornalista / fotógrafo

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